ABC da moda de acessórios: kitsch, liberdade e moda

K – KITSCH é a arte da felicidade. Assim pensa o criador do conceito, o cientista da informação e da comunicação A. Moles. O termo kitsch vem do alemão, e está relacionado a um julgamento sobre estilo, autenticidade e arte. A palavra não é usada apenas de modo pejorativo, como a palavra “brega”, mas se refere a uma atitude que resulta de reflexão e consciência.

O kitsch é uma estética, tem lugar na história da arte do século XX. É um estilo, ainda que seja “estilo marcado pela ausência de estilo”, como nota Moles. Hoje está na moda, faz sucesso nas passarelas, e se caracteriza pelo aspecto chocante, chamativo, zombador.

O brilho, as cores fortes, as referências, os materiais adaptados de modo bizarro, o aspecto fake, o exagero, a imitação fora de contexto, a mistura de estilos, todos esses ingredientes fazem o kitsch.

Exemplos: vestido de plástico, camisa listrada usada com calça de bolinhas, lenço na cabeça com maquiagem 3D, camiseta com a Mona Lisa, óculos escuros com estrelas, megajoias, imã de pinguim na geladeira, jarro em forma de abacaxi, anel conchinha combinado com pulseira de sereia, lentes cor-de-rosa-choque e assim vai.

Antes era simplesmente cafona, brega, de mau gosto, agora passou a ser chique, fashion, moderno. Está na Louis Vuitton, no Marc Jacobs, é fácil ver nas ruas e nas vitrines de lojas caras.

Porque tanta mudança?

Não existe algo que seja em si mesmo kitsch. Esse termo se refere a algo em relação com seu contexto e intenção. Por isso, a criança com a pulseira de sereia não está expressando seu gosto pelo kitsch. Difícil, não é?

Tudo junto ao mesmo tempo e misturado agora!

Esse é o espírito do kitsch.

L – LIBERDADE.

Ter liberdade na moda é ousar, sobretudo, ousar ser o que se é.

M – MODA tem a ver com comércio e consumo, mas não apenas isso.  É também cultura, expressão da individualidade e produção coletiva. Embora ajude também a ditar padrões de beleza e de comportamento, a moda é principalmente resultante desses padrões.

O primeiro passo da indústria da moda na produção material de roupas e acessórios é observar o que as pessoas gostam, fazem, pensam, como se vestem e como se relacionam com o próprio corpo. A moda não é produzida apenas de modo hierárquico, não é somente a criação de algumas mentes geniais, como os estilistas famosos Yves Saint-Laurent, Coco Chanel, Pierre Cardin, Marc Jacobs ou Alexandre Herchcovitch.

Nós criamos moda todos os dias. “Vestir é amplamente influenciado pelo existir”, pensam os estudiosos da cultura da moda Amanda Campos, Richard de Sousa e Luiz Salomão Gomez.

Acordamos de manhã e escolhemos o que vestir de acordo com sentimentos e inspirações. Tudo isso depende do modo como vivemos. A moda hoje é liberdade. O que a distingue de outras épocas é a diferenciação. Não há mais imposição de um grupo social.

Cada um faz a sua moda. Ela é sempre atual e passageira, ao mesmo tempo coletiva e individual. Queremos embelezar a paisagem, recolher frases de admiração, impressionar as pessoas que amamos.

Criamos, fabricamos, customizamos, reciclamos ou individualizamos algo que é industrial e coletivo. O toque pessoal está presente também na combinação entre cores, materiais e elementos do vestuário.

Mais uma vez: ousem!

(Natalia Rougier)

Referências

CAMARGO, Pedro. Em Londres, o kitsch invade as passarelas de diversos estilistas. Disponível em: http://elle.abril.com.br/moda/em-londres-o-kitsch-invade-as-passarelas-de-diversos-estilistas/. Acesso em: 22 fev. 2017.

Campos, Amanda Queiroz; Gomez, Luiz Salomão Ribas; Sousa, Richard Perassi Luiz de; O sistema cultural da moda. Em: Alceu, v. 14, n. 27, jul.-dez. 2013, p. 33-47. Disponível em: http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/3alceu27.pdf. Acesso em: 8 mar. 2017.

MOLES, Abraham. O Kitsch. 5ª. Ed. Perspectiva, 2001.

SÊGA, Christina Maria Pedrazza. O kitsch está Cult. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12445/1/ARTIGO_KitschCult.pdf. Acesso em: 22 fev. 2017.

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